José Mindlin em sua biblioteca particular, em foto de 19 de setembro de 2008
Foto: Gustavo Scatena/Imagem Paulista Fotografia/Divulgação
O ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), afirmou na tarde deste domingo que, enquanto era presidente do Brasil, mudou uma lei, no ano de 1996, para que o empresário e bibliófilo José Mindlin pudesse doar os 38 mil livros de sua biblioteca pessoal para a Universidade de São Paulo (USP). "O Brasil é tão estapafúrdio que quando eu era presidente fui obrigado a mudar a lei que obrigava a pagar 25% do valor da doação, ele não tinha esse dinheiro", afirmou.
José Mindlin morreu em São Paulo na manhã deste domingo por falência múltipla de órgãos no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde estava internado há cerca de um mês. Mindlin tinha 95 anos. O corpo está sendo velado no hospital e deve enterrado às 15h no Cemitério Israelita da Vila Mariana.
O ex-presidente também falou sobre a atuação de Mindlin no episódio da morte do jornalista Vladimir Herzog. "Ele foi muito mais que um bibliofilo, foi um resistente contra o regime autoritário, sou testemunha disso. Ele era uma pessoa preocupada com o País e com fortes sentimentos democráticos", disse Fernando Henrique.
Ao lado de Fernando Hernrique, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), Serra também elogiou a atuação do empresário durante o mesmo episódio. "Em um certo momento, ele foi uma grande figura política. Soube defender a liberdade de imprensa naquele episódio da morte do Vladimir Herzog. Uma grande figura de São Paulo", disse.
Também presente no velório, o Senador Eduardo Suplicy (PT-SP) lamentou a morte do bibliófilo e falou sobre a postura adotada por Mindlin no episódio da morte de Herzog. "Sou muito amigo, conhecia ele de perto. Era uma pessoa formidável, com uma visão ampla, sempre teve uma postura muito aberta com os governantes em um momento muito importante como secretário estadual da Cultura. Teve postura firme no episódio da morte do jornalista Vladimir Herzog, que foi um momento de enorme dor para todos nós", disse.
O reitor da Universidade de São Paulo (USP), José Grandino Rodas, afirmou que Mindlin lutou muito para a faculdade pudesse receber seu acervo pessoal de livros. "Ele lutou por 15 anos para que a USP recebesse os livros. Devia ter sido o contrário", disse o reitor. Ele afirmou que além dos livros, o bibliófilo tinha um acervo muito completo de mapas do Brasil, além da primeira edição de livros muito importantes, como Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões.
Biografia Mindlin nasceu em São Paulo em 8 de setembro de 1914. Formado em direito pela Universidade de São Paulo, foi redator do jornal O Estado de S. Paulo de 1930 a 1934 e advogou até 1950, quando fundou e presidiu a Metal Leve.
Foi casado com Guita Mindlin, que morreu em 25 de junho de 2006. O casal teve quatro filhos: a antropóloga Betty, a designer Diana, o engenheiro Sérgio e a socióloga Sônia.
Mindlin foi membro do Conselho Superior da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) de 1973 a 1974 e de 1975 a 1976, diretor do Conselho de Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e secretário da Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, quando estruturou a carreira de pesquisador. Fez parte do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CNPq), do Instituto de Pesquisa Tecnológica, e da Comissão Nacional de Tecnologia da Presidência da República, entre outras entidades.
O bibliófilo recebeu ainda diversas premiações, entre elas, em 2003 o prêmio Unesco Categoria Cultura; a Medalha do Conhecimento concedida pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; prêmio João Ribeiro da Academia Brasileira de Letras; e, em 1998, o prêmio Juca Pato como Intelectual do Ano.
O casal formou uma das mais importantes bibliotecas privadas do País, que Mindlin começou a formar aos 13 anos e chegou a ter 38 mil títulos. Em maio de 2006, o casal fez a doação de cerca de 15 mil obras da Biblioteca Brasiliana para a USP. No conjunto doado, constam raridades como documentos do século XVI com as primeiras impressões que padres jesuítas tiveram do Brasil, jornais anteriores à Independência e manuscritos que resgatam a gênese literária de grandes obras, como Sagarana, de Guimarães Rosa, e Vidas Secas,de Graciliano Ramos.
É o autor de Uma Vida entre Livros, Reencontros com o tempo e Memórias Esparsas de uma Biblioteca. Lançou em 1998 o CD O Prazer da Poesia.
Com informações da Academia Brasileira de Letras.
Fonte: www.terra.com.br